Por Ana Ribeiro, com fotos de Gilad Sasporta
Ao falar de Paris, as pessoas se lembram da luz, da beleza, dos cafés, dos museus, dos cheiros, dos sabores. Daniela Busarello fala do vento: “Tem muito vento aqui, é uma coisa que mexe fisicamente com você, com tua pele, teu cabelo. Sentir o vento é ter uma sensação tátil com a cidade.”
Arquiteta de formação, profissão na qual chegou a atuar por vários anos, Dani trocou sua Curitiba natal por Paris em 2007, para o que seria um ano sabático. “Abri um escritório, tive um percurso como arquiteta de interiores, mas minha vida deu uma reviravolta. Tinha cursado a Escola do Louvre quando cheguei e fui estudar na Escola Superior de Beaux-Arts. Comecei pelo desenho, em 2014 explodiu em mim a pintura”, explica.
A arquitetura entrou na vida de Dani por influência familiar – seu pai e sua mãe são do ramo. Ela cresceu em uma casa projetada pelos pais no bairro Jardim Social, em Curitiba. “Era uma construção modernista, com ambientes bem abertos e flexíveis, integrados com o espaço externo, a vegetação entrava pela janela. Tinha uma mistura interessante de objetos, a casa não era nada minimalista. Estava mais para barroca, com peças trazidas do mundo inteiro, ao mesmo tempo em que tinha obras de artistas paranaenses. Minha mãe é pintora também, muitas das obras eram dela.”
Aos 40 anos, quando se deu a tal “reviravolta”, Dani trocou de vez a arquitetura pelas artes plásticas. “Não penso que tenha sido uma mudança radical. É uma continuidade. Sinto que faço o que acredito, mas em uma outra linguagem. Eu sou pintora.” Adotou definitivamente Paris como sua casa e fez uma turma eclética de pessoas cosmopolitas, de várias origens e faixas etárias – “dos 30 aos 80 anos” –, e divertida. “Tem artista, arquiteto, advogado, intelectual, especialista em chocolate, DJ que fez Ciências Políticas”, enumera. “Um de meus amigos gosta de dar festas à fantasia. Já fui vestida de Yayoi Kusama, fantasiada de bandeira francesa e de deusa Shiva. As roupas eu mesma confeccionei com papel crepom.”
O apartamento de Paris, onde mora sozinha na rua de Bellechasse, no sétimo distrito – “entre o museu Rodin e o D’Orsay” –, como ela prefere localizar, não lembra em nada a casa da infância, onde seus pais ainda vivem. Tudo ali é clean, móveis de design, madeira no chão, portas e paredes brancas. “Quis criar um espaço de paz em casa e tirei tudo daqui. Quero ter o mínimo possível”, explica. Mas as cores estão lá também, só que escondidas nos armários. “O meu guarda-roupa é o mais colorido de todos. Gosto de me divertir com a moda. A roupa transforma você em várias personagens. Não que eu seja várias pessoas, mas posso brincar com a pessoa que sou.”
Entre estampas, brilhos, lantejoulas, dourados e prateados, as grifes vão das brasileiras Maria Bonita e Osklen a Valentino, Chanel, Fendi, Hermès, Dior. Aponta algumas peças Saint Laurent antigas e cita a japonesa Tsumori Chisato. Dries Van Noten é um dos favoritos, e não abre mão dos biquínis de Lenny Niemeyer. “Compro em sites, em brechós, em leilão ou em promoções. Não gosto de pagar caro, mas gosto de peças que durem. Tenho roupas com mais de 15 anos de idade.”
Sua arte tem um investimento grande em cores também. Em setembro de 2020, fez a primeira exposição solo em Paris, Vida, com telas enormes, de dois metros por três metros, com pigmentos extraídos de lavas de diferentes colorações da ilha de Lanzarote. Atualmente, trabalha em outra série, a “Mar Verde”, com pigmentos de plantas da Mata Atlântica. “Eu sou brasileira, trago o Brasil dentro de mim. A gente carrega uma vida dentro da gente”, diz. Duas exposições das pinturas de Daniela estão em cartaz: em Veneza, na Fondazione del Albero d’Oro, e no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.
Seu meio de locomoção em Paris é a bicicleta. Para se equilibrar, pratica yoga e meditação. A cozinha é seu outro espaço de criação: Dani adora cozinhar. Andando de bike pela cidade, ela prova o vento parisiense que tanto a agrada. “Paris é muito magnética, tem um bilhão de coisas para fazer. Você está o tempo todo fora de casa. Ando pela cidade com olhos atentos e o coração batendo.”